Paulo Carneiro bota a boca no trombone

Paulo Carneiro não mediu palavras. Botou a boca no trombone e criticou a atual gestão, a imprensa de rádio e tentou esclarecer seu processo contra o Vitória, que ocorre nesta terça-feira, 30, às 9 horas, no Tribunal Regional do Trabalho, em Nazaré.
Confira, as declarações ditas ao repórter Moysés Suzart do jornal A Tarde pelo ex-presidente do Vitória, que adiantou não comparecer à audiência onde ele quer direitos trabalhistas e danos morais.

A TARDE | O que o senhor tem a dizer sobre o processo envolvendo Vitória e Paulo Carneiro?

Paulo Carneiro | Me pareceu que o presidente Jorge Sampaio é um homem desinformado sobre as questões administrativas do clube que ele dirige. Eu não sou inimigo do Vitória. Mas ele quer que pareça ser. Esta atual gestão gerou uma contingência trabalhista milionária contra o Vitória. Eles decidiram que tudo que fosse da minha época, como empregados, eles não iriam pagar. Todos que foram procurar um acordo amigável com eles, a atual gestão mandava reclamar na Justiça. Minha secretária Telma tinha uma ação de R$ 18 mil e tentou fazer parcelamento sem juros. Eles não quiseram e, agora, a ação já está nos R$ 120 mil. No meu caso não foi diferente. Tentei fazer um acordo pacífico.

AT | Mas a sua ação é de R$ 10 milhões de direitos trabalhistas. Não é Ilusório?

Paulo Carneiro – Esta ação se divide em duas partes, ao contrário do que muita gente pensa. A primeira, é das minhas parcelas rescisórias. Esta, contando com juros, não ultrapassa o R$ 1,5 milhão. A outra, é o dano moral.

AT | E qual foi este dano moral?

Paulo Carneiro | Jorginho mandou a torcida ir no TRT. Pra me bater? Isso é dano moral. Mas o que está no processo foi a acusação que os dirigentes fizeram sobre cheques que eu teria descontado na boca do caixa. Isto foi esclarecido. Todos foram contabilizados no Vitória. Mas Alexi Portela declarou na imprensa que o clube havia descontado dois cheques em 2004. O cheque foi entregue ao jogador Adailton, envolvido na venda. Existe o recibo, inclusive. Ele falou o que não sabia. Eu tive, inclusive, uma reunião com Alexi na sala do saudoso Maneca Tanajura, junto com Jorginho. Mostrei toda documentação e perguntei porque tinham levado isso a público. ‘Eu não sabia. A informação chegou errada’, disse Alexi. São uns caras-de-pau…

AT | E o contrato trabalhista?

Paulo Carneiro | Jorginho é empregado do Vitória também. Ele tem o mesmo vínculo que eu tinha. Com carteira assinada e Fundo de Garantia depositado pelos argentinos. O clube não tem dono, mas o S/A tinha, e o dono era o grupo argentino que me contratou para gerir o clube. Portanto, eu não era chefe de mim mesmo. Quem definiu meu salário foram os conselheiros desta instituição, que eram quatro representantes dos argentinos e três do clube. O que estou pedindo é meu direito. Mas como é Paulo Carneiro…

AT | E por que a Justiça afirmou que haveria documentos de legitimidade duvidosa para provar vínculo empregatício?

Paulo Carneiro | Quem assinou minha carteira no Vitória foi o senhor Rinaldo. Ele ainda é funcionário do Setor Pessoal do Vitória. A carteira de trabalho de Jorge Sampaio também é assinada por Rinaldo. Entenderam que minha carteira profissional não estava regular. Acharam que eu mandei Rinaldo assinar. Mas será, quando o grupo argentino me contratou, que eu mandei assinar minha carteira já prevendo minha saída e poder reclamar mais adiante?

AT | Foi um bom negócio a parceria com o Exxel Group?

Paulo Carneiro | Havia um grande movimento nacional e entrada de empresas querendo investir no futebol. Os times antes eram sem fins lucrativos e não podia receber verbas. Foi criado, então, o Vitória S/A, para atrair recursos. Neste momento, é uma boa o Vitória acabar com este status. Mas na época trouxe grandes benefícios. Colocamos um caminhão de dinheiro dentro do Vitória.

AT | E para onde foi destinado o dinheiro?

Paulo Carneiro | Muitas coisas. No time, no patrimônio. Você acha que fizemos a concentração, ambulatório e fisiologia com que dinheiro? Se bem que ali ainda tem R$ 150 mil meu que ninguém me paga. Alexi Portela sabe disso. Sabe o que ele diz? ‘Quem doa dinheiro ao clube não precisa receber’. Ele tem dinheiro lá também…

AT | E sobre a suposta irregularidade de jogadores vendidos na sua gestão?

Paulo Carneiro | Eu tenho uma declaração de Alexi Portela no conselho do Vitória. Ele afirma que todas as transações foram regulares. A própria palavra do presidente desmente tudo. Toda transação feita por mim tem contrato de câmbio com o Banco Central. O que está no contrato de venda está no contrato de câmbio, sem um centavo a menos.

AT | E quanto às novas transações depois de sua gestão?

Paulo Carneiro | Eles precisam explicar melhor sobre a venda de Marcelo Moreno. Como pode vender um raro camisa 9 ao Cruzeiro por R$ 900 mil? Zé Perrela (dirigente do Cruzeiro) é conselheiro do Vitória? Comigo não tinha esta moleza de agora. Eu levei 18 anos e só fiz um camisa 8,5, que era Nadson. Moreno foi eu que comprei, por R$ 50 mil, pago ao pai dele. Como é que o Vitória não ganha nada com a venda dele? Estranhamente, depois de um ano, ele é vendido por 10 milhões de euros e o Vitória não viu nada. Como é o nome disso? É dilapidação de patrimônio. Disseram que um grupo espanhol comprou o restante do passe, se não me engano 40%. Pelo que conheço do Cruzeiro, eles não deixariam nunca outra empresa se apossar do restante do passe, que não ultrapassava R$ 400 mil. Onde está esta empresa? Para quem foi o dinheiro realmente? Alex Silva foi para o São Paulo e foi vendido para o Hamburgo por 5 milhões de euros. Quando saí, deixei 50% do passe dele com o Vitória. Cadê o dinheiro da venda? As pessoas precisam olhar para o próprio rabo…

AT | O Vitória ficou sem dinheiro depois de sua saída?

Paulo Carneiro | Deixei o Vitória auto-suficiente. Não deixei o clube pedindo esmola na mão de mecenas. O Vitória dependia de mecenas durante quase toda sua existência. Quando vendi Dida, Paulo Isidoro e Alex Alves, o Vitória viveu das próprias pernas, sem precisar de esmolas de conselheiros. Eu passei meus anos na Série A com apenas R$ 700 mil de direitos televisivos. Hoje, é de R$ 12 milhões. Dizer que deixei o clube sem dinheiro é falácia. Dinheiro da sede foi pago quando eu não estava mais. Foram R$ 8 milhões à vista.

AT | E por que o senhor não esclareceu isso tudo à imprensa?

Paulo Carneiro | O problema é que a imprensa de rádio quando está de bem com a pessoa que está no poder, principalmente recebendo os mimos e agrados, não fala mal.

AT | Por que agrediu Noel Tavares numa em uma das audiências?

Paulo Carneiro | Não houve agressão. Inclusive pedi desculpas publicamente. Ele, na verdade, foi um empregado usado. Eu sou inimigo de Varela (radialista). Eu sempre me impus a ele. Aí, manda o cara lá pra me encher o saco, colocando microfone na boca.

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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