Barradão dar a volta por cima!

Não deu certo a idéia de o Bahia mandar seus jogos da serie B no estádio do Vitória, mas está muito longe de ser uma unaminidade a rejeição tricolor ao Barradão, como imaginam os mais radicais.

Numa região abandonada, num “fim–de–mundo”, um estádio e uma comunidade reconstruíram sua história, marcada pelo lixão de Canabrava. E com a ajuda dos tricolores.

O antigo cenário dantesco vive sob novos tempos que ajudam adeptos de Bahia e Vitória a virar o jogo da vida. Tal situação não seria possível, se os moradores e a paisagem do local continuasssem a sobreviver das oito milhões de tonelada de lixo acumuladas em 25 anos. Graças à influência do Vitória, o aterro sanitário foi retirado, pouco a pouco, a partir de 1997.

A instalação de um parque socio-ambiental possibilitou o nascimento de um belo gramado e árvores frutíferas; a convivência com ratos e urubus foi substituída por coelhos e pássaros; onde as crianças trabalhavam ao lado de adultos no reaproveitamento do lixo, hoje está um parque infantil e um campo de futebol.

Até mesmo o bairro mudou oficialmente de nome. Antes era Canabrava, uma alusão ao odor expelido, semelhante ao dos gases das plantações de cana-de-açúcar. Em 2001 tornou-se Santa Maria da Vitória, referència à padroeira do clube bi-camoempeanto baiano.

Referência entre a torcida do Bahia que habita em Canabrava, Dª. Leonor Ferreira, 60 anos, é das mais agradecida ao Vitória, “Dava para escrever um romance com as coisas que vivi aqui”.

Ex-badameira, apelido de quem sobrevive do lixo do antigo aterro sanitário, Leonor criou os seis filhos vulneráveis a doenças e ao preconceito: “Quando alguém dizia que morava aqui, inventavam logo uma desculpa para não dar emprego”.

Hoje a torcedora do Bahia agradece ao Vitória a superação de sua dor, exibe a alegria de participar da cooperativa de catadores de Canabrava (Cooperbrava), que recicla materiais e gera uma renda mensal de até um salário mínimo para cada um dos seus 55 associados.

Quanto à contribuição do estádio e da administração do Vitória para a melhoria de vida dos bademeiros, Leonor lembra que a realização dos jogos criou um comércio ativo, devido às melhorias realizadas no local, a partir da utilização do Barradão para os jogos oficiais com mais freqüência, há cerca de 15 anos, nem por isto seu time do coração como de tantos outros moradores deixou de ser o Bahia, estampado na toalha de banho de estimação, da qual não se separa em dias dos jogos do tricolor.

A Luta de Leonor não chegou ao fim, os problemas ainda estão presente na antiga Canabrava. “Existe muita violência devido ao tráfico de drogas entre os jovens, e o transporte coletivo continua ruim”

Levar a família ao Barradão em dias de jogos se aproximava de um sacrifício. As ruas estreitas e congestionadas, acumulavam uma montanha de lixo, muitas vezes escalada pelos torcdores, para escapar da confusão e não perder um minuto da partida. Ao chegar em casa, era obrigação ir direto para o chuveiro tirar a inhaca e dar uma boa lavada no tênis melado de barro e outras melecas.

Hoje a realidade da região está bem diferente. As via de acesso continuam longe do ideal, mas conseguem deixar o trânsito fluir melhor; os tricolores não puderam testar melhor, porque desistiram de usar o Barradão.

É, por incrível que pareça, até mesmo um boom imobiliário avançou nas cercanias do estádio, sinalizando um progresso económico no ex-Barralixo. Os caminhos que levam ao monumental rubro-negro estão cercados de novos condomínios, com um precinho mais em conta para a população de baixa renda,

basta passar pelas avenidas Aliomar Baleeiro ou Artémio Valente, entre outras, nos bairros 7 de Abril, Jardim Nova Esperança e Santa Maria da Vitória.

Muitos torcedores que queriam distância do local na rotina diária, procuram um prédio próximo do Barradão e existem alguns que levam a sorte grande de ter uma vista para o gramado onde ocorrem as partidas, são famílias felizes, como a do Sr. Valdir, Dª. Rosana e a filha Larissa, que comprou um apartamento zerado com vista previligiada para a “Toca do Leão” e a bela vegetação local do condomínio São Lourenço, na av. Aliomar Baleeiro.

Nos dias de jogo o imóvel de 47 m2, dois quartos e arejado, torna-se um camorote com até 20 amigos, familiares e vizinhos, alguns dispostos a assistir a um triunfo, outros a um tropeço rubro-negro, como o Jean Lula, o vizinho professor de português e tricolor, mas tudo numa boa.

No “camarote” tem bolo de milho e refrigerantes para os amiguinhos da fantasiada Larissa Santos, oito anos; a manicure Rosana Jesus Santos, 34 anos, deixa o feijão no tempero certo e o cabeleireiro Valdir Alves, 34 anos, faz questão de deixar a cerveja bem gelada, o clima vai esquentando à medida que os demais torcedores ocupam as arquibancadas, a bateria dos Imbatíveis puxa os gritos e o time entra no gramado sob fogos de artifício. Uma maravilha que nenhum tricolor radical, daqueles que usam máscara contra o suposto fedor, poderia imaginar nos velhos e superados tempos dos ratos e urubus.

Sujeira de Salvador toma rumo de Itinga

O depósito de lixo da cidade transferiu-se da região dos Alagados para Canabrava, em 1972, após denúncia de prejuízos ambientais na Baía de Todos os Santos.

Hoje está localizado na Estrada do CIA – Aeroporto, próximo a Itinga, concentração do Bahia. Quando o Vitória conseguiu o terreno para a construção do Barradão, o acúmulo estava chegando ao auge na gestão Ademar Pinheiro e Paulo Carneiro, os rubro-negros se uniram em torno do projecto de utilização do Barradão, reinaugurado em 1991, ponto de partida da virada. Com informações do Correio

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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