Bicho se transforma em salário no Fazendão

Se os salários de junho só foram pagos na última quinta-feira, 14 de agosto, os jogadores do Bahia procuram paliativos para amenizar o vazio financeiro. O dinheiro das premiações fornecidas pela empresa BWA, responsável pela confeccão dos ingressos dos jogos tricolores, inverteram a ordem natural do mundo financeiro do futebol organizado. Agora, no Fazendão, o bônus recebido a cada quatro ou seis pontos conquistados em duas partidas seguidas substitui os vencimentos que, em tese, deveriam ser pagos pela diretoria no quinto dia útil de cada mês.

Pelo acerto com a empresa, o Bahia pagará a quantia emprestada em 2009, quando o clube tem certeza que jogará novamente em Salvador e terá rendas mais altas de bilheteria.

A premiação extra, chamada de bicho e comum no contexto do futebol, transforma-se na renda fixa. Mercado paralelo criado, o atraso salarial fez um grupo de jogadores tomar uma decisão sindicalista às vésperas da partida contra o Gama, na última sexta. Como o tricolor já havia sido derrotado pelo Marília quatro dias antes, não havia mais a possibilidade de alcançar a soma de quatro ou seis pontos na dobradinha de partidas.

Então, os atletas pediram à diretoria para suprimir da contagem a derrota por 3×1 para o Marília e recomeçar o sistema de bonificação na partida diante da equipe brasiliense. Pedido atendido, empate em campo e chance de repartir R$20 mil se vencer o Fortaleza sábado, às 16h10, na capital cearense.

O goleiro Darci e o volante Fausto representaram os atletas junto à diretoria. “A gente sabia que era um momento muito importante e não ia ser um jogo fácil. Não foi só pelo dinheiro. Já ia sobrar uma partida porque a conta dava ímpar”, detalha Darci, um dos mais profissionais do grupo. Ímpar porque a bonificação começou a ser paga na vitória por 1×0 sobre o Corinthians e, daquela 12ª rodada até o final da 38ª, são 27 partidas. Como o bicho é combinado a cada dois jogos, a divisão deixava resto e o último jogo do campeonato sobrava na contagem.

Apesar dos recentes tropeços, a performance do time melhorou após a injeção monetária. Por duas vezes, os jogadores conseguiram a série de quatro pontos e, uma vez, a de seis pontos, que rende R$30 mil a ser repartido entre o elenco. Em números, foram 15 pontos de 24 disputados com o novo sistema (62,5%), melhor que os 14 de 33 possíveis, ou 42,4%, quando não havia renda fixa.

O retrospecto faz o diretor financeiro e de marketing Marco Costa comemorar o saldo positivo e acreditar no acesso, pois ainda há dez dobradinhas pela frente – nove inteiras e uma a fechar sábado. “Se eles fizerem dez dobradas de quatro pontos, são 40 pontos, mais 28 (pontuação antes de abrir a casadinha com empate contra o Gama), dá 68 e sobe tranqüilo. Se fizerem nove, dá 64 e sobe também”, planeja, deixando margem de erro para duas derrotas ou até mais, caso o time alcance dobradinhas de seis pontos nos 19 jogos restantes. Como parâmetro, o Vitória, 4º colocado de 2007, subiu com 59 pontos, e o América-RN precisou de 61 em 2006. Antes disso, o regulamento não era o de pontos corridos. Correio da Bahia

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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