“Complexo do Paraibismo”: A saga continua!

Tive a honra de passar meu primeiro São João no distrito de Barro Vermelho, que faz parte do município de Curaçá. Fazia muito tempo que meus familiares paternos já cobravam minha presença e afirmo para vocês que, além de conhecer melhor parte de minhas “raízes”, pude também aproveitar um São João de muita alegria e simplicidade por parte das pessoas que lá residem.

Mas como tudo não é flores, o assunto futebol fora o único que me deixou chateado. Lá pelas tantas horas da madrugada, o vocalista de uma das bandas de forró que fazia parte das atrações dos festejos juninos local fez a velha animação conclamando os torcedores de diversos clubes do nosso país. Perguntou pela galera do Flamengo, Vasco, Corinthians, São Paulo e para minha surpresa (ou será que não?), não chamou as torcidas dos dois maiores clubes de nosso estado: Vitória e Bahia.

Confesso a todos vocês que pela primeira vez eu e meu primo tricolor ficamos do mesmo lado no que se refere ao futebol. Mas ao mesmo tempo concluímos que Vitória e Bahia possuem sim grandes torcidas, mas suas maiores concentrações estão em Salvador e cidades extremamente vizinhas (naquele momento, somente eu e meu irmão éramos Vitória, e nosso primo, Bahia).

Lógico, sabemos todos que alguns fatores contribuíram para esse perfil do nordestino “pagar pau” para os clubes de futebol do sul do país. No passado havia grande influência dos veículos de comunicação dessa região, principalmente no interior que tinham como experiência futebolística, tanto auditiva como visual, por exemplo, a era Zico no Flamengo, os gols de Roberto Dinamite pelo Vasco, a democracia Corintiana de Sócrates, Casagrande e Zenon, além do “casal 20” formado por Assis e pelo baiano Washington no Fluminense.

Mas, por outro lado, vamos observar que os veículos de comunicação sofreram grande evolução. Houve um grande avanço no que se refere ao alcance do sinal de rádio e TV. Hoje temos a internet que conecta pessoas no mundo todo. Os próprios clubes do Nordeste também cresceram em termos de projeção e resultados dentro e fora de campo. Então se conclui, que o que ocorre hoje, é realmente complexo de inferioridade por parte do próprio nordestino em torcer para os clubes daqui. É o velho “complexo do paraibismo” já abordado por outros grandes torcedores do Nordeste. Aqui cito o grande rubro-negro Fernando Baía, integrante da banda Tihuana, em sua coluna “Vitória na Veia” do site Barradão On Line.

Tive um imenso orgulho, como nordestino, no ano passado, quando a torcida do América de Natal, mesmo com o clube já com o rebaixamento consolidado para a Série B, colocou uma faixa no Estádio Machadão na partida contra o Flamengo com os seguintes dizeres: “Potiguariocas, vocês são a vergonha do nosso estado”. Não é possível que isso não tenha mexido com parte daqueles potiguares que estavam do outro lado das arquibancadas vestindo o uniforme do rubro-negro carioca, cuja torcida lá no Rio está pouco se lixando e alguns até desconhecem da existência do Mecão. Não é possível que algumas criaturas não tenham refletido que para que Vitória, Sport, CRB, ABC, Santa Cruz, entres outras agremiações se tornem cada vez mais fortes, estas devem possuir uma torcida forte, apaixonada, que viva o dia-a-dia do clube e esteja presente nos bons e maus momentos.

É inadmissível chegar ao Estádio Manoel Barradas e observar, por exemplo, baianos do lado dos torcedores gaúchos do Internacional, torcendo pela equipe dos Pampas e vaiando os jogadores do clube do seu próprio estado. E ainda tem aqueles que defendem aquela teoria mórbida de torcer pra Vitória e Flamengo, Bahia e Vasco, e por aí vai! Será que no “Sul Maravilha” eles são Flamenguistas no Rio e Vitória na Bahia? Santos em São Paulo e ABC no Rio Grande do Norte? Pelo contrário. Já presenciamos declarações preconceituosas do Sr. Renato Gaúcho afirmando que “A Bahia é terra de índio” e do Sr. Edmundo, que em um dos seus milhares momentos de total desequilíbrio emocional declarou em uma partida aqui no Nordeste, após ser punido pela arbitragem que “estava jogando na Paraíba (aqui citado de forma pejorativa), com um monte de ‘paraíba’ e ainda tinham colocado um ‘paraíba’ para apitar o jogo!”. Aí surgiu o termo “complexo do paraibismo”, em alusão ao fato dos sulistas denominarem “paraíba” qualquer nordestino, sem ao menos questionar sua naturalidade.

O mais engraçado é que eu me primo tricolor, no dia após o show da banda do tal vocalista, discutimos lá mesmo em um barzinho (eu com o manto sagrado, ele com a camisa do seu clube) com vários torcedores “cariocas”, e uma pergunta surgiu de nossa parte: “Se o Flamengo jogasse aqui contra o Barro Vermelho vocês torceriam pra quem?” A resposta vocês já sabem… Se o Barro Vermelho fizesse um gol no rubro-negro carioca, tenham certeza que iria receber uma vaia em sua própria casa do tamanho do nosso estado! Dá para entender?

Saudações Rubro-Negras!
Renato Ribeiro/Barradão Online
Rubro-negro e fisioterapeuta.
E-mail: tinhojhow@yahoo.com.br

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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