Quanto custa calar Oscar Paris?

Outro dia, esperando uma destas reuniões, acabei folheando um ATEC grandão e me deparei com o texto do destemido Oscar Paris, abordando um tema tão delicado quanto dificílimo: a denúncia de fraude do caso Liedson ( foto).

O mais grave da ocorrência não é nem a impunidade nem a evidência do crime, pois pelo que o colega apurou, um documento foi falsificado com o objetivo de beneficiar dirigentes, que são cantados em prosa e verso como ótimos administradores.

O que ficou demonstrado por Paris e a equipe da TVE, como também já havia ouvido do radialista Cerqueira (o da Metrópole), é a probabilidade de ilícitos serem cometidos nos gabinetes das instituições esportivas que deveriam zelar pela salvaguarda dos direitos dos desportistas.

Para este ex-editor-coordenador e fundador do ATEC, entre outras publicações esportivas, ao longo de 25 anos de dedicação, o maior absurdo é por que a imprensa baiana simplesmente fecha os olhos a estes crimes.

O que não dá para entender é por que somente Paris e Cerqueira (perdão se não sei escrever direito Iansen) se acham no dever de denunciar a irregularidade. Por que precisa uma revista esportiva nacional como a Placar tocar no assunto?

AFASTAMENTO

Onde estamos nós, cronistas baianos, que nada vemos, nada sabemos, nada ouvimos sobre este tipo de notícia desfavorável aos dirigentes detentores do poder até a Copa de 2.025, se é que vamos ter copa neste ano, só fazendo as contas.

Será que está faltando dar uma chegadinha em Oscar? Ligar pro colega lá na TVE pra ver se ele topa um jantarzinho pra bater um papo, ver se ele dá uma forcinha de evitar esta divulgação negativa que só atrapalha o desenvolvimento do futebol baiano?

Não sei qual o número da conta do colega, sei que ele anda interpelado aí judicialmente porque tem esta mania de querer exercer seu ofício com a máxima independência e por isso o chamei para substituir o insubstituível Armando na coluna Gol de Placa, atendendo a uma boa sugestão do sábio Barbosa.

Se, por estilo e experiência, moderação e capacidade de conciliação, o nobre Paris não tem a mesma habilidade do nosso falecido camisa 10, por outro lado, tem procurado compensar com muita garra, ao abordar temas difíceis como este do caso Liedson.

Paris foi quem primeiro deu visibilidade a graves dificuldades de compreensão na gestão do Vitória no período até 2005 e acompanhou também a repercussão do ‘caso jabaculê’, que culminou no afastamento do editor-coordenador na manhã de 13 de agosto de 2007.

PROFISSÃO

Agora, vai Paris se meter em outro problema. Mas é assim que se faz imprensa, gente. É enfrentando os poderosos. É botando o dedo na ferida. Não dá pra ser jornalista mais-ou-menos. E é aí que volta a pergunta que intriga: quem somos nós?

Seríamos, então, meros divulgadores das façanhas de quem nos interessa promover? Seríamos, então, como zagueiros que impedem a circulação de informações de fontes a quem nos interessa preservar das críticas?

E quanto levamos nisso tudo? Como ocorrem as transações comerciais subliminares que podem corroer a qualidade da informação a ponto de comprar nosso silêncio e permitir que a Placar e uma ou outra exceção, como Oscar e Cerqueira (Iansen) falem?

Será que o que fazemos é imprensa mesmo? Honramos a memória bicentenária de Frei Caneca, executado por publicar suas idéias e denúncias na Typhis Pernambucana? Honramos Cipriano Barata, tantas vezes preso por ser um jornalista de verdade?

Independentemente da discussão da formação acadêmica e da necessidade de diploma e outras questões importantes, fica esta incrível encruzilhada: ou somos incompetentes demais para exercer a profissão ou tem muita coisa aí que precisa ser explicada com urgência, quem sabe com o apoio das equipes de Segurança Pública.Paulo Leandro

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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