Arquitetos contra fim da Fonte

Por Livia Veiga

A partir da autorização do governo do Estado, por intermédio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), para que empresas consultoras formulem estudos preliminares para uma nova concepção de uso para a Fonte Nova e seu entorno, o futuro do estádio versa sobre a dúvida: demolição ou readaptação do equipamento esportivo. O governo admite interesse em tornar Salvador uma das cidades subsedes da Copa do Mundo de 2014 e para tanto, o Estádio Otávio Mangabeira, como é batizada a velha Fonte Nova, deverá ser alvo de estudos, que “deverão servir de subsídios para o modelo do novo estádio, o regime de gestão e operação do equipamento público e seu entorno”, segundo mostra o aviso de manifesto de intenção, publicado no Diário Oficial do Estado, na última quarta-feira

Mas, como explica o arquiteto, urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, Nivaldo de Andrade Júnior, um abaixo-assinado será entregue ao governador Jaques Wagner nos próximos dias e manifesta a posição de cerca de 500 especialistas, artistas, autoridades e cidadãos baianos, contrários à demolição do estádio. De acordo com Nivaldo de Andrade Júnior, mesmo antes da tragédia que resultou na morte de sete torcedores em 24 de novembro do ano passado, o governo já havia manifestado interesse em demolir a Fonte Nova para dar lugar a um novo equipamento nos padrões FIFA.

Em artigo publicado em 4 de novembro de 2007, o especialista se referia ao vasto “obituário arquitetônico”, que registra nas últimas décadas, demolição de representativas residências projetadas nos anos 1950 e 1960 para dar lugar a edifícios de apartamentos e comerciais. Nivaldo de Andrade Júnior temia a possibilidade de morte anunciada do Estádio Octávio Mangabeira, projetado pelo arquiteto Diógenes Rebouças e inaugurado em 28 de janeiro de 1951, projeto elaborado sob consultoria informal de alguns dos mais importantes arquitetos brasileiros de então, dentre eles Oscar Niemeyer.

“A Fonte Nova é um patrimônio cultural e em vez de ser demolido, deve ser readaptado. Tanto o Conselho Regional de Arquitetura e Engenharia (Crea), quanto a Escola Politécnica da Ufba, elaboraram estudos e concluíram que não há necessidade de demolir a Fonte Nova, visto que não existe comprometimento na superestrutura do equipamento, sendo necessário, sim, manutenção, como para qualquer estrutura do mundo. Mas há a intenção de empresas estrangeiras em trazer a Salvador um modelo que é mais que um estádio, é uma espécie de shopping center (empreendimento privado, com menor capacidade, praça de alimentação e alto custo de ingressos). Isso representaria uma transformação radical do equipamento esportivo hoje existente, e essas empresas que fazem loby com o governo tendem demolir a Fonte Nova. A FIFA não exige esse tipo de coisa, que os estádios sejam adequados à sofisticação de tal modelo. É necessário sim, melhoria das condições de segurança e acessibilidade, por exemplo”, afirma o professor Nivaldo.

Em entrevista realizada ainda na última quarta-feira, Nilton Vasconcelos, secretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, já havia confirmado que existem empresas com know-how em obras de grande porte em outras capitais, interessadas em participar da licitação do estádio para a Copa 2014. “Mesmo antes da tragédia da Fonte Nova já cogitávamos a possibilidade de privatização da construção e operação de um estádio nos padrões FIFA. A primeira proposta foi construí-lo na Avenida Paralela. Por que não demolimos? A solução tinha que estar acoplada a qualquer ação de demolição, mesmo que do anel superior.

Tínhamos várias alternativas, mas agora, várias empresas, inclusive estrangeiras, que têm experiência com obras desse porte, já manifestam interesse em contribuir com o estudo em Salvador”, afirmou Vasconcelos. As empresas interessadas em apresentar estudos sobre o futuro da Fonte Nova têm um prazo de 15 dias para manifestar oficialmente tal intenção (a contar desde o último dia 9 de abril), e mais 45 dias úteis para apresentar suas propostas.Leia também -► “Inquestionáveis méritos arquitetônicos”Leia também -► Greve compromete cronograma de obras do estádio de Pituaçu

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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