Torcida brinca e provoca na harmonia e paz

Saíram de Salvador tensos, embora convictos da revanche. Antonio Augusto, Antonio Cláudio e Amilton Cruz chegaram a Feira de Santana às 9h40 para o clássico Ba-Vi marcado para as 17h. Participaram de churrasco na casa de Jaime Cruz, representante comercial de tintas, e, pouco antes da partida, encontraram André Rezende, cunhado de Guto, apelido de Antonio Augusto, na entrada do Jóia da Princesa. Haja “a” no enredo.

Nervosos, sentaram nas cadeiras. “Quando vejo jogar de igual para igual com time ruim deste, vejo que há muito a fazer”, reclamou um professor universitário e engenheiro civil sentado ao lado. Devia ter 50 anos. Tinha total razão. Referia-se à série de passes errados do Vitória, seu e dos demais amigos, exceto André, Bahia convicto. Solitário. Na arquibancada e alegria, afinal, minutos depois, final de primeiro tempo, Rogério fez gol decisivo ao completar de cabeça falta cobrada por Pantico.

Guto pediu outra cerveja, mas Amilton não quis buscar. Estavam em comunhão pela virada. Pagaram então ao vendedor de sorvete. Como vale a remuneração, ele acumulou a função de garçom. André não perdeu a oportunidade de provocar. No intervalo, lançou flechas imaginárias a Índio, que ia ao vestiário. “Jogo horroroso”, repetia Guto. Verdade pura. “Não gosto deste Rogério. Bicho tiradinho da porra”, reclamava. Rogério é dos tricolores mais quietos. “Que nada”, duvidava. Mas também dos que jogam melhor. Rivalidade é assim. Contraditória.

Antonio Cláudio avistou Alexi Portela Júnior, presidente do EC Vitória, na Tribuna de Imprensa. “Vai pagar o prêmio pelo acesso à Série A que está atrasado, p… Como o time vai jogar assim? Jogador quer o dele também, p…”. Alexi, com certeza, não ouviu, embora seu filho, sentado ao lado, observasse a cena. Mas Antonio desabafou. Sentiu-se aliviado. E, provavelmente com razão, pois tem amigos que vivem nos bastidores do Vitória. André repetia os gritos dos tricolores na torcida. Dançava o Creu, funk da moda que aportou na terra do axé no verão. Sacrilégio.

O segundo tempo foi no mesmo embalo, pois o rubro-negro manteve maior volume de jogo. Discussões e comportamentos de meninos entre pais de família. André bebia ainda mais, pois pernoitaria em Feira, na casa da mãe. Já tinha até avisado à esposa. Guto, Antonio Cláudio e Amilton iam, compassadamente, diminuindo o ritmo. Não pela viagem de volta. Mas pelo resultado, que, somado ao churrasco, à comemoração antecipada, com certeza, terminou em bela indigestão.

Ingresso – Apesar dos 11.684 pagantes, melhor público do Bahia no estadual, houve muita reclamação do lado de fora do Jóia da Princesa. pelo preço cobrado por cada entrada: R$20 (inteira) e R$10 (meia). A cadeira custava R$40. “É um absurdo um negócio deste. A população daqui não tem como pagar”, bradou o estudante universitário Lucas Conceição, prostrado na bilheteria, no intervalo. “Acabaram as meias”, justificou a atendente. “O jeito é ver Fluminense ou Feirense, que é de graça com o Sua Nota ou não passa de R$10 (os clubes não exigem a carteira de estudante)”.

No guichê da empresa de transporte interestadual Santana, que faz a linha Salvador-Feira e Feira-Salvador a cada 30 minutos, uma recepcionista confirmou aumento no número de passagens no intervalo anterior e posterior ao horário do clássico. “Mas menor que o previsto”, contemporizou. Quem esperou pela transmissão da TV se deu mal. Deu-se bem quem compôs as centenas de migrantes por um dia. Torcedores do amor sem fronteiras.Eduardo Rocha/Correio da Bahia

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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