Devia chorar de vergonha

A imagem do jogador Souza, imitando choro, para tripudiar com os botafoguenses, é a melhor prova de que esporte já deixou de ser esporte há muito tempo. Um dos mandamentos do bom desportista é, justamente, respeitar o adversário derrotado.

A idéia de Souza foi ainda mais baixastral porque os botafoguenses não estão chorando à toa, todos os remanescentes do que um dia foi esporte estão chorando pela forma como o Flamengo ganhou mais um título, agora foi a Taça Guanabara pela décima-oitava vez.

O chorinho de mentirinha apareceu quando o Fla abriu o placar diante do Cienciano, pela Taça Libertadores. O Mengão da mídia sofreu o empate e Márcio fez o gol da vitória apertada, mas que logo ganha manchete por causa da força de público da urubuzada.

Já o São Paulo, que é um time mais elegante, foi buscar um bom empate contra o Nacional da Colômbia. O Tricolor paulista roubou mais uma torcedora do Bahia esta semana: a sobrinha querida, Grûde, de nome sueco-eslovaco, mas personalidade baiana, migrou para o Morumbi.

Quer dizer, ela nem foi a São Paulo ainda e provavelmente vai demorar mais um pouquinho de conhecer a megamegamegalópole brasileira. Mesmo assim, cansou dos resultados do time de cartolinhas ridículos o tempo inteiro e esta oposição que não sai de baixo faz 14 anos.

MEEIRO

Não é só ela, não. Com certeza, vizinho John do jiu-jitsu e meu antigo parceiro Patrão também um dia devem ter se cansado do tricolor doméstico e buscaram abrigo num time de verdade. Né todo mundo que güenta ser fiel o tempo todo perdendo pra Icasa, Poções e Ipitanga não.

O Cruzeiro vai direitinho na Libertadores, já venceu o Cerro Porteño do Paraguai duas vezes. A Raposa, quando pega jeito de bicho tinhoso, leva sempre perigo a qualquer galinheiro, mesmo ao alcance da América Latina.

E por escrever de galinha, o River Plate deu 2 a 1 no América do México. O Monumental de Nuñes (aquilo sim é Monumental, reconheço) é outra história. Tem até show de rock no intervalo de jogo. Buenos Aires é outra cultura, e o brasileiro tem de dançar o tango.

Mas, cuidado com a zebra da terra de Chaves, o libertador: como diria aquele carioca da cerveja, Caracas! O time com nome da capital da Venezuela passou pelo Real Potosí e vem aí disposto a honrar o país que vem merecendo toda a atenção e esperança dos sul-americanos.

O Estudiantes da Argentina, se não me engano, se alcunha ‘Los Bichos’, (ou será que é Independiente?), mas não estão assim tão danados, caso contrário teriam passado pelo modesto Lanús. Libertadores é assim mesmo, ainda mais que agora está inchada e tem um monte de time meeiro disputando.

AZAR

Enquanto não se consegue libertar a América de verdade, esta competição de futebol, aparentemente tão inocente, oferece um mosaico cultural de nossa diversidade. Tem Arsenal, outro time tirado a inglês, de Sarandí, contra Mineros de Guaiana.

A capital da Bolívia tem seu La Paz Futebol Clube que tomou 2 a 0 do Atlas no Jalisco de Guadalajara, (leia guadalarrara), no México, onde a Seleção de Saldanha tascou 4 na Itália de shortinhos apertados e ganhou o tri mundial de 1970.

Tem até time com nome do diretor daquela revista que o prof. Roberto sempre escrevia. É o Chicó Futebol Clube, que ganhou apertado do Audax por 4 a 3. Os uruguaios também têm seu sonho ‘ingrês’, com o tal de Wanderers Montevidéu. Maravilhosos.

Para os baianos, esta copa é um sonho. Os tricolores, que gostam de supervalorizar qualquer coisinha, hão de bater sempre no peito para dizer: fomos os primeiros representantes do Brasil na Libertadores. Quatro campanhazinhas tacanhas. Mas o orgulho intacto.

Os rubro-negros, então, que azar! No ano que ‘conquistaram’ (ou conquistamos, este cronista é parcial) o vice nacional, as regras mudaram e os representantes brasileiros passaram a ser o campeão brasileiro e o campeão da Copa do Brasil.Blog de Paulo Leandro

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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