Cléber e família travam batalha longe dos gramados

No altar montado na estante da sala da espaçosa casa em Villas do Atlântico, em Lauro de Freitas, uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, um vaso de flores, uma bíblia aberta e uma vela sempre acesa, disputam espaço com as fotos do meia Cleber.

Uma das imagens expostas no santuário foi capturada no último dia em que o meia do Bahia esteve com a família, dia 15 de outubro. “Ele estava de cabeça quente porque não conseguia receber o dinheiro que o Vitória está lhe devendo. Eu disse que era melhor aproveitarmos o pouco tempo que ele tinha pra ficar com as meninas pra dar uma volta na praia. Peguei a máquina e fiz a foto. Parece que eu estava adivinhando”, relata Marguit Regina Frolich, de 37 anos, mulher do atleta, que está na UTI desde o dia 22 de outubro, quando sofreu um AVC (acidente vascular cerebral), em Natal.

O estado de saúde de Cléber, mas ainda é grave, disse o médico do Bahia, Marcos Lopes, que acompanha o jogador desde que ele foi transferido de Natal para Salvador, há um mês.

“O leucograma não apontou mais a presença da bactéria que provocou a meningite, mas ele ainda corre risco de morte”, disse o médico após uma visita ao paciente na UTI do Hospital Espanhol, na tarde desta quarta-feira, 12.

O jogador teve uma acentuada piora no quadro clínico na noite de sábado, quando voltou a ser entubado. Mas desde esta terça, já respira sem a ajuda de aparelhos.

Depois da foto na praia, Cleber arrumou as malas e partiu com a delegação do Bahia para Goiás, onde a equipe enfrentou o Atlético-GO. Dali foram direto para Natal. Um dia depois da derrota para o ABC, Cleber acordou com uma insuportável dor de cabeça. Foi levado às pressas para o Natal Hospital Center onde foi submetido a uma craniotomia para retirada de um coágulo no cérebro. Oito dias depois, foi transferido em um avião UTI para o Hospital Espanhol, em Salvador, onde permanece inconsciente.

Nesse período de quase dois meses, a vida da família Frolich (pronuncia-se Frélij), virou de cabeça para baixo. A casa, outrora espaçosa para quatro pessoas, ficou pequena para acomodar os parentes de Marguit e Cléber, que se revezam em viagens de Novo Hamburgo a Salvador para dar assistência à mãe nos cuidados às pequenas Luiza, de 18 meses, e Vitória, de quatro anos.

Teresinha e Paulo, que aproveitavam as férias na casa de Cléber quando ele sofreu o AVC, estabeleceram-se indefinidamente na Bahia e só arredam pé quando o filho estiver recuperado. A morte ou a invalidez são hipóteses que sequer cogitam. “A missão dele ainda não está cumprida. Não seria agora, depois de tanta luta, que iria dar algo errado”, diz Paulo, que completou 56 anos na última segunda-feira, 10.

O presente de aniversário, a volta do filho para casa, teve de ser adiado. Na última semana, os médicos do Hospital Espanhol planejam transferir o jogador da UTI para um quarto normal. Foram obrigados a reconsiderar depois que o paciente foi acometido por uma infecção hospitalar. Um catéter infectado usado pra drenar o sangue de um segundo AVC sofrido pelo atleta, 15 dias após o primeiro, acabou provocando uma meningite.

“Ele já mexia o lado direito, apertava a minha mão e piscava o olho quando a gente pedia. Mas depois dessa infecção houve um retrocesso, lamenta Marguit”.

A companheira tenta mostrar tranqüilidade ao comentar o estado de saúde do marido. Só não consegue conter a emoção ao falar das filhas. “Para a Vitória foi explicado que o pai está com um machucado na cabeça, mas a menor não entende. De vez em quando chama por ele”, conta.

Para Paulo Frolich, a necessidade de mostrar-se forte diante das crianças e nas visitas diárias que faz ao filho no Hospital, evita que ele esmoreça. “Graças a Deus, fé e amor pela família nunca faltou entre nós. Não fosse por isso, a gente já tinha desabado”.Luiz Antônio Abdias, Especial para o Pelé.Net

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

Deixe seu comentário