Oposição do Bahia é burra e erra o foco, dispara Paulo Maracajá

Em entrevista ao repórter Márcio Martins para o Jornal Bahia Notícias o ex-presidente Paulo Maracajá volta alfinetar a oposição tricolor quando diz que ela é burra por errar o foco. Mais adiante afirma em tom de provocação e diz: “Quando dizem que vão comprar títulos de sócios, compram e não pagam as mensalidades” Quanto ao seu património Maracajá se defende dizendo: “Sempre trabalhei desde os 18 anos e nunca fui vagabundo” e arremata como autentico dono do clube afirmando: “Não vou deixar ser presidente do Bahia alguém sem competência para tal”

Vale a pena conferir

Jornal Bahia Notícias – Quem é Paulo Maracajá no futebol?

Paulo Maracajá – Nasci em Salvador, tenho 63 anos de idade. Em termos de Bahia, quando me formei em Direito, pela Universidade Federal da Bahia em 1966, conheci Otávio Vilas Boas, irmão de Osório, que naquela ocasião – diretor do Departamento Jurídico do Bahia – me chamou para ajudar no departamento em 1968, quando eu tinha 24 anos de idade. Daí, ele me apresentou a Osório, que naquele ano, fez uma Comissão de Futebol, com Francisco Bosco, com Lopinha, João Andrade e comigo, que durou uns quatro meses. Depois, em 1970 fui eleito pela primeira vez conselheiro do Bahia, fui eleito diretor secretário da gestão de Alfredo Saad, também fui durante 30 dias em sua gestão, diretor de futebol. Na gestão do professor Paulo Auxílio, fui representante do Bahia na Federação e em 1972, Wilson Trindade foi eleito presidente e eu, diretor de futebol. Assumi esse cargo até 21 de janeiro de 1979, quando fui eleito presidente do clube, assumindo até 21 de junho de 1994, quando tive que renunciar para vir para o Tribunal de Contas do Município, onde exerço o cargo de conselheiro até hoje.

Jornal Bahia Notícias – Nesse período, que tipo de conquista, digo até o Campeonato Brasileiro, que mais lhe emocionou, mais contagiou a torcida? Outras conquistas que tenham colocado o Paulo Virgílio Maracajá Pereira em evidência no futebol brasileiro?

PM – Primeiro, nós fizemos juntos de 1973 a 79, o Bahia ganhou o maior título, sete vezes campeão de profissionais seguidas. Posteriormente, em 1981, tivemos a vitória histórica quando o Bahia ganhou do Santa Cruz, de cinco a zero, uma vitória emocionante no dia 4 de abril daquele ano. O maior de todos, foi o título de Campeão Brasileiro de futebol, em 19 de fevereiro de 1989. De lá para cá, considero que a entrada do Bahia no Clube dos 13 foi um feito histórico, fora do eixo Rio Grande do Sul – São Paulo – Rio, foi o único clube que entrou. Além do mais, na nossa gestão, conseguimos vender dois grandes jogadores, principalmente Jorge Campos, que ocasionou 50% da construção do Fazendão, 50% do Parque Jorge Campos. Nós conseguimos também aumentar o patrimônio do Bahia. Na sede de praia do Bahia havia uma piscina que não tinha sido concluída, nós a concluímos, fizemos as quadras esportivas e o ginásio de esportes. Então, esses são feitos que realmente deixam-me muito feliz e contente. Quando nós saímos, em 1994, o Bahia foi bicampeão baiano de profissionais. Tem muita gente que usa uma tese dizendo que depois que foi campeão brasileiro, não veio mais nada. Essa tese é mentirosa. O Bahia foi campeão brasileiro em 1989. Em 1990, o Bahia ficou em terceiro ou quarto no Brasileiro naquele jogo com o Corinthians, aqui na Fonte Nova. Fomos campeões baianos de 1991 e bicampeões em 1993 e 94, quando foi sexto colocado do Brasil. Então, quando começam a dizer que o Bahia depois do Campeonato Brasileiro não ganhou nada, é mentira.

Jornal Bahia Notícias – Certo. E depois que foi campeão brasileiro, a tendência de qualquer clube que conquiste um título nacional é que se torne, a partir daí, uma grande força do futebol nacional. Maracajá, por que o Bahia hoje está na terceira divisão? Por que não alavancou investimentos e não fez tudo que um grande clube faria para ser uma grande potência, como é o São Paulo, por exemplo?

PM – Emprimeiro lugar, quero dizer que em 89 o Bahia foi campeão e em 90 ficamos em terceiro ou quarto do Brasil. O clube se manteve em excelente posição. Em 1994, último ano da minha gestão, o Bahia foi o sexto colocado do Brasileiro. Então, essa cobrança que é feita depois de minha saída, é uma cobrança muito indevida. Gosto que seja cobrado de mim enquanto fui presidente e diretor de futebol. Não sou responsável por gestões de Petrônio, Pernet, Marcelo Guimarães e Pithon. Eu sou responsável por minha gestão. Por exemplo, você é eleito presidente do Bahia e eu te apóio. Mas eu lhe apoiar não significa que quem manda sou eu. Uma coisa é você estar à frente, outra é ajudar. Diria que o Bahia passou por Pernet (dois anos), Pithon (um ano e meio), Marcelo (quase oito anos) e Petrônio (dois anos). Esses quatro presidentes são pessoas independentes e cada um responsável por sua gestão. Eu ajudei, por exemplo, a gestão de Marcelo Guimarães, quatro anos. Depois, em 27 de março de 2003, nós tivemos desentendimento, feito por chavequeiros que jogaram Marcelo contra mim e passamos quase dois anos sem nos falarmos. Então, por exemplo, uma posição xiita que existe contra mim passa a dizer que eu há 35 anos mando no Bahia. Não é verdade. Sou responsável por meus atos de 28 de setembro de 1972 a 21 de junho de 1994. Depois não sou apenas um conselheiro que ajuda o clube.

Jornal Bahia Notícias – Se você tivesse continuado em 1994 e não tivesse ido para o Tribunal o Bahia estaria em outra situação hoje? A culpa do Bahia estar na terceira divisão, se dá pela sua saída?

PM – Márcio, não quero sentar e dizer que a culpa e de fulano ou sicrano. O que seria dizer que eu sou o bam bam bam, o porreta e os outros não são. Acontece que comigo o Bahia conseguiu em 22 anos que fiquei no clube, 17 campeonatos baianos de profissionais e 17 de juniores. Agora, não posso falar dos outros, porque todos os outros fizeram o possível para acertar. Se erraram, é um problema de cada qual.

Jornal Bahia Notícias – Antes de sua gestão, Osório foi um dirigente que eu diria, vitorioso. Pelo que diz, inclusive pessoas da oposição, por exemplo, Edmundo Pereira Franco acha que Osório Vilas Boas, na época em que o futebol não tinha nem 1% de profissionalismo, conseguiu excursionar com o Bahia por três meses fora do Brasil. Quando ele saiu, deixou um legado que até hoje se questiona sobre alguns títulos do Bahia. O livro de Osório Vilas Boas, Futebol, paixão e “catimba”, revela que o Bahia fora de campo armou muitos resultados?

PM – Para mim, Osório Vilas Boas foi um dirigente extraordinário, temos que fazer justiça. Ganhou a Taça Brasil de 1979, foi o dirigente que conseguiu ser pentacampeão baiano. Ele foi presidente de 1958 a 1972 e deixou sua marca no clube. Considero Osório um dirigente extraordinário. Agora, quanto ao livro dele, eu respeito o que foi escrito. Ele escreveu e distribuiu em vida. Então, me reservo a qualquer comentário sobre o livro de Osório.

Jornal Bahia Notícias – Sem querer entrar no mérito do livro, mas ficou a imagem de que o Bahia teve muitos títulos comprando arbitragem, comprando o adversário. A imagem é essa passada naquele livro?

PM – Eu acho muito difícil comprar juiz, comprar jogador. Porque eu por exemplo, em 23 anos, nunca comprei um juiz e um jogador. Então, ouço muitas histórias. Há muitas histórias que não são verdadeiras, são lendas. Existem aquelas histórias de catimbas que são feitas para se conseguir colocar um jogo em uma data, por não querer jogar em uma semana que tem muito jogador machucado e transferir a partida para domingo. Por exemplo, dizem que aquele jogo Bahia X Santa Cruz de 5X0, que o Bahia comprou jogador. É mentira, não houve nada disso.

Jornal Bahia Notícias – O que aconteceu naquele jogo?

PM – Aconteceu que, com a torcida do Bahia entusiasmada, quando demos um bicho milionário aos jogadores do Bahia e deu tudo certo. Os gols foram saindo, saindo, e demos cinco no Santa Cruz. Tomamos quatro em Recife e demos cinco aqui. Isso acontece em futebol. Uma das vitórias mais bonitas que o Bahia teve na vida, uma das mais lindas que já presenciei.

Jornal Bahia Notícias – Dizem também que no Campeonato Baiano, o Bahia precisava ganhar o jogo e deu 3×0 no Juazeiro, que tinha como técnico “Sapatão”. Ele virou estrela pela história de ajudar sempre o Bahia. Isso é verdade ou mito? O Bahia comprou aquele jogo do Juazeiro? O Bahia trabalhou nos bastidores para o técnico “Sapatão” facilitar, ou isso é mito também?

PM – É mentira, não tem o menor fundamento. “Sapatão”, um jogador sério, um profissional correto que foi capitão do Bahia por sete anos, não existe isso. Aquele jogo do Juazeiro, nós empatamos na Fonte Nova. Ao invés de irmos para Juazeiro de ônibus, eu fretei um avião e fomos até lá de avião. Chegando lá, ficamos no melhor hotel, pedimos um policiamento tremendo. Tínhamos receio da população de Juazeiro, por querer ganhar, tentasse invadir campo e tal. Conseguimos que a Federação colocasse um árbitro muito bom. O Bahia foi lá, jogou futebol e ganhou o jogo.

Jornal Bahia Notícias – Porque “Sapatão” nunca foi treinador do Bahia, do profissional?

PM – Já foi treinador da divisão de base. Do profissional não foi, assim como outros quiseram e não puderam ser, como Douglas, Léo Oliveira, ambos por questões de ocasião.

Jornal Bahia Notícias – Existem hoje, ex-jogadores, que atuaram no Bahia há muito tempo e hoje contestam a sua administração. Por que muita gente que saiu do futebol há muito tempo guarda sentimentos de mágoa, rancor, não só de Maracajá, mas da estrutura do Bahia na época, comparando com a de hoje?

PM – Olha, cada um com o seu cada qual. Por exemplo, Osni, eu trouxe Osni para o Bahia numa transação muito grande, que foi muito útil como jogador e botamos Osni como treinador. Ele foi treinador do Bahia quando o clube foi campeão, de lá para cá, sumiu. Nada contra Osni. Douglas, por exemplo, não foi técnico do Bahia, como ele gostaria de ter sido. Talvez ele ache que eu não tenha lhe dado a chance, mas eu não posso dar a todos os ex-jogadores a chance de serem treinador. Na minha época, de 1973 para cá, vocês verifiquem que tivemos Evaristo de Macedo, Paulo Amaral, Orlando Fantoni, Zezé Moreira, Carlos Froner, René Simões, Givanildo Oliveira, Paulo Emílio, Armando Reganés. O Bahia teve grandes treinadores e não tivemos chances para dar a todo esse pessoal. Então, às vezes ficam zangados. Respeito a zanga de cada qual. Por exemplo, Bobô foi comprado como jogador e o vendi para o São Paulo. Na gestão de Marcelo, o colocamos na divisão de base do Bahia. Depois, na mesma gestão foi colocado como técnico. Em 27 de março de 2003, eu e Marcelo brigamos e eu me afastei. Bobô ficou como técnico do Bahia. Depois ele não foi feliz, saiu. E o Bahia caiu naquela ocasião para a segunda divisão. Depois Bobô foi diretor de futebol do Bahia e não pode se queixar.

Jornal Bahia Notícias – O próprio poder desgasta. A gente sabe que a permanência no poder traz a cada dia a insatisfação de um e de outro. Isso se prolonga na própria vida pessoal de cada um. Hoje você se sente desgastado no Bahia, Maracajá? Ou se sente mais amado ou odiado pela torcida?

PM – Márcio, eu tenho 90% dos torcedores do Bahia a meu favor. Se for feita uma pesquisa honesta com o torcedor, ia dar 90% a meu favor. O que a oposição vai dizer de mim? Ninguém tem mais títulos do que eu. Aí começam a ofender, agredir. Por exemplo, Petrônio é presidente e eu o apoiei. Aí, qualquer erro da gestão de Petrônio, a culpa é de Maracajá. Começam a dizer: 35 anos de Bahia. É brincadeira (risos). Eu sou responsável por 22. Como podem dizer que sou responsável por gestão de Pithon, de Pernet, Marcelo. Acabamos de dizer que na gestão de Marcelo passei dois anos sem pisar no Fazendão brigado com ele. Então, como sou responsável por aquilo que não estou presente. Vai haver eleição do Bahia em 2008, se eu apóio o candidato e ele ganha, eu sou responsável por ele? Não existe isso. Cada um é responsável por seus atos.

Jornal Bahia Notícias – Mas a partir do momento que você apóia e até, indica um candidato, como Pernet que foi seu diretor durante anos e então, é um homem de sua confiança, deveria ter a competência de seu antecessor. Por exemplo, Petrônio Barradas, foi seu companheiro por mais de 20 anos. Marcelo Guimarães não foi tanto assim, mas foi também da sua gestão. Então, quando você indica candidatos, não é co-responsável por uma gestão fracassada?

PM – Não, Marcelo era amigo de Osório Vilas Boas, que o queria como presidente. Eu não conhecia Osório e começamos a conviver. Não era meu candidato. Depois passou a ser meu candidato, achava que ele tinha condições de ser presidente e apoiei a gestão dele. Você é responsável por votar e cada um responsável por seus atos. As pessoas que vão para lá são maiores de idade, vacinadas, pais de família, que sabem exatamente aquilo que estão fazendo.

Jornal Bahia Notícias – E por que, hoje esta relação com a oposição. As críticas chegaram a um ponto de agressões pessoais, de tentar até tirar vocês à força, na raça. Essa relação não é por desgaste de tanto tempo no poder?

PM – A oposição como disse, é burra. Ela tem que saber que existe um conselho de 300 nomes, mais os dirigentes. Eles têm que lutar e se associar para ganharem a eleição do conselho e fazer parte dos 300 conselheiros. Então, procuram focalizar em mim. Não sou só eu que apóio Petrônio, ele foi votado por 256 conselheiros, entre eles, deputados federais, estaduais e secretários de Estado. A oposição focaliza em mim porque sou o nome mais vitorioso da história do clube. Focaliza em mim para me desgastar, para me aporrinhar. Eles fazem isso e só tem feito perder. Quando dizem que vão comprar títulos de sócios, compram e não pagam as mensalidades.

Jornal Bahia Notícias – Na última manifestação, eles foram à Fonte Nova e distribuíram panfletos e tentavam mostrar de qualquer forma que você ganhou dinheiro e posição social com o Bahia. Até quando isso é verdade? Maracajá hoje é um homem rico e tem um cargo no Tribunal de Contas por causa do Bahia?

PM- Desde 18 anos entrei numa faculdade de Direito e me casei. Com 22 anos já tava formado e tinha quatro filhos. Sempre trabalhei desde os 18 anos e nunca fui vagabundo. São 45 anos de trabalho. Já fui representante comercial, já tive frota de táxi, fui vereador em Salvador, fui deputado estadual, sou conselheiro do Tribunal de Contas do Município. São 45 anos sem parar de trabalhar, agora mesmo, estou dando entrevista a meu amigo Márcio Martins em meu horário de trabalho. Tenho direito a ter patrimônio.

Estou há três anos no Tribunal e recebo o maior salário do Estado e ainda sou aposentado como deputado estadual. Sou gratíssimo ao Bahia. Se não fosse pelo Bahia, não tinha sido vereador em Salvador de 1976 a 1982. Não tinha sido deputado estadual de 1982 a 1994. Não teria projeção nacional e prestígio político como eu tive.

Jornal Bahia Notícias – Você pretende sair do Bahia?

PM – Diria a você que quero ver o Bahia na Série A do Campeonato Brasileiro. Não sou de correr da luta. Agora, eu tinha vontade de deixar o presidente Petrônio Barradas ou qualquer que seja, sem ligações mais estreitas comigo e me dedicar ao Tribunal de Contas. Há um consenso que serei o próximo presidente do Tribunal nos próximos quatro anos. Para ocupar cargo diretivo no Bahia, só como presidente. Vou dizer a você que compulsoriamente já me aposento com 70 anos. Se com essa idade eu estiver vivo, com disposição e notar que o Bahia precisa de mim, poderei ser presidente de novo. Salvo, algum motivo de força maior. Não vou deixar ser presidente do Bahia alguém sem competência para tal, alguém que tenha raiva no coração. A pessoa não pode dirigir o Bahia sempre com raiva dos outros. Como tem pessoas, por exemplo, que gostariam de me ver morto. O que eu já recebi de ameaça de morte, por telefone privado. Agora, não me amedronta, porque a vida quem me deu foi Deus e quem me tira é Deus.

Jornal Bahia Notícias – É verdade que sua família ia sempre à Fonte Nova e hoje não quer mais ouvir falar em futebol?

PM – É verdade sim. Minha família fica louca da vida porque acha que eu não deveria ir mais à Fonte Nova. Acha que eu corro risco de ser agredido. Mas eu quero ver se ajudo o Bahia a voltar para a Segunda Divisão. Me incomoda como torcedor ver o Bahia no porão do futebol brasileiro. Quero ver o Bahia campeão da Série A.Jornal Bahia Notícias

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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