Jorginho Sampaio: A sensação é de missão cumprida

Do sucesso na axé music para o futebol. Assim pode ser contada boa parte da história de vida de Jorginho Sampaio, 49 anos, ex-empresário de artistas da música, entre elas as musas Ivete Sangalo e Daniela Mercury. Se não fosse o seu prestígio, o Vitória não teria feito anteontem, no Barradão, uma festa tão bonita, digna do torcedor rubro-negro, em comemoração à ascensão do clube à primeira divisão em 2008. Até então desconhecido no futebol, a não ser como torcedor que não perdia jogo do time na Fonte.

Nova ou no Barradão (ia até a jogos fora do estado), o presidente do Vitória assimilou rápido o aprendizado que teve com o ex-vice-presidente de futebol, Sinval Vieira, e faz uma grande gestão. Entretanto, o seu grande esteio é o presidente e conselheiro Alexi Portela Júnior, um dos responsáveis por Jorginho estar no posto em que hoje se encontra. O presidente do Vitória S/A promete um grande time para ser bicampeão baiano e depois disputar uma boa colocação no Brasileiro da Série A.

– A sua missão está cumprida na presidência rubro-negra com a volta do Vitória à elite do futebol nacional?

Jorginho Sampaio – Com toda a certeza. A sensação é essa, de missão cumprida. A emoção é muito grande. Conseguimos esse grande feito devido à nossa união. Nunca vi o Vitória tão unido como está hoje e isso, sem dúvida alguma, foi fator preponderante para essa conquista memorável e histórica da volta do Vitória da Série C para a Série A em dois anos. Isso se deveu, sem sombra de dúvida, à união que desfruta hoje o Vitória.

– Isso custou muito caro?

Jorginho Sampaio – Claro que sim. A dedicação foi total. A família sofreu muito com nossa ausência. Sou casado e tenho uma filha. Entretanto, Tânia, minha mulher, e Marina, minha filha, me deram muita força. Elas fizeram com que o caminho e essa missão fosse muito mais tranqüila para mim. Porque tudo fica mais fácil quando a gente está com Deus e a família.

– Nesse percurso, qual foi a maior dificuldade?

Jorginho Sampaio – A maior de todas foi a credibilidade. O time estava destroçado, caído no calabouço do futebol brasileiro que é a Série C. Quando assumimos, ninguém queria vir jogar no Vitória, ninguém queria treinar no clube. Não tínhamos a menor credibilidade no mercado brasileiro. Porém, quando Alexi Portela Júnior e esse novo grupo assumiram o Vitória, tudo mudou. A maior dificuldade foi recuperar a credibilidade, o nome do clube, que estava na lama. Graças a Deus todos nós conseguimos isso num esforço muito grande, capitaneado por Alexi e no qual a gente se incorporou no meio da travessia, assim como uma legião de outros rubro-negros. Resgatamos inicialmente o nome do Vitória. Os resultados no campo vieram em seguida. Subimos com duas rodadas de antecedência. Fomos campeões baianos de maneira antecipada e, por último, estamos chegando mais cedo à elite do futebol brasileiro, o que nos deixa muito feliz.

– Foi difícil sair da arquibancada como um torcedor comum e hoje estar sentado na cadeira principal do Vitória, que é a do presidente do clube?

Jorginho Sampaio – Acho isso muito bacana. Mostra que um simples torcedor, desde que ele seja apaixonado e movido pelo amor, pode tranqüilamente administrar um clube da envergadura do Vitória e restabelecer a dignidade, o orgulho, como nós fizemos. Entretanto, sozinho a gente não faz nada. Imagine o Barradão, que abriga 45 mil pessoas, e apenas um rubro-negro torcendo pela equipe. Claro, que não tem graça. A graça maior no futebol é abraçar a pessoa ao lado, até mesmo aquela que a gente nunca viu, mas na hora do gol os dois comemoraram. É muito bacana! É o amor ao time que faz a magia do futebol. Portanto, eu não consegui nada sozinho e nem isso passa perto de mim. O Vitória é uma legião imensa de torcedores. O que a torcida fez na Série C e que está fazendo na B é um negócio fantástico. Ela é a razão de ser de um clube de futebol. Agradeço ao torcedor do Vitória e aos muitos que colaboraram para a gente atingir esse objetivo.

– Quem foi o pai da matéria de trazer Jorginho Sampaio à presidência do Vitória?

Jorginho Sampaio – O convite partiu do meu antecessor Alexi Portela, apoiado por Ademar Lemos Júnior, Albérico Mascarenhas, Maneca Tanajura, Rodolpho Tourinho, e o seu filho Rodolphinho. Esse grupo me convidou e eu procurei me dedicar ao máximo para fazer jus a essa honra.

– Como sucedeu a mudança de ritmo da axé music para o futebol?

Jorginho Sampaio – Eu não tinha nenhuma experiência em gestão de clube de futebol, já que a minha prática de vida era dedicada à música e, especificamente, à música produzida na Bahia. Me orgulho muito dessa coisa fantástica que é a axé music, na qual deixei muitos amigos, artistas, produtores e músicos. Claro a mudança me assustou. Como torcedor, homem de 49 anos e que há mais de 40 anos acompanha o Vitória, por ser fanático pelo clube, do tipo de acompanhar jogos na Fonte Nova, Barradão e até fora do estado, por gostar bastante de futebol, aceitei o desafio. Foi a partir daí que arregacei as mangas, peguei o meu chapéu de Indiana Jones e fui para essa fantástica aventura de ser presidente de um clube que estava na Série C, precisando subir para a B e a A.

– Você teve aprendizado com quem no clube?

Jorginho Sampaio – Sem dúvida alguma foi Sinval Vieira. Ele foi uma dádiva para mim no Vitória. Com ele, na época vice-presidente e diretor de futebol rubro-negro, tive um aprendizado imenso. Naquele momento, Sinval, com toda a sua experiência de divisão de base, de Federação Bahiana de Futebol, de advogado, de apaixonado de futebol e também de ex-jogador, foi muito importante no meu início. Aprendi e continuo aprendendo, bebendo nessa fonte inesgotável que é ele.

– Por que Sinval não continuou no clube?

Jorginho Sampaio – No Vitória, na época quando assumi, ainda existia muita injustiça, muita pressão. Hoje, felizmente isso não existe mais. Sinval Vieira foi vítima de uma dessas injustiças, porém saiu do Vitória porque quis. Saiu para procurar uma qualidade de vida melhor e a gente respeitou muito a decisão desse companheiro. Mas é um homem muito digno e que continua ajudando ao clube e à nossa administração.

– O que você pode falar de Alexi Portela Júnior?

Jorginho Sampaio – O Vitória não conseguiria chegar até aqui se não fosse o amor desse rubro-negro. Alexi Portela Júnior, que já teve em seu pai um exemplo como dirigente do Vitória, está dando continuidade a todo o carinho e apreço da família de ajudar o clube. Alexi não só tem amor por esse clube, como também é uma pessoa muito generosa, inigualável. Ele me convidou, passou o bastão e continua correndo ao meu lado. Se não fosse Alexi, o Vitória não chegaria até aqui. Por isso, é um orgulho ter feito essa grande amizade que tenho hoje com esse homem. Olha que no percurso, uma vez ou outra tentaram me jogar contra ele e ele contra mim, mas isso só fez fortalecer ainda mais a nossa amizade. É uma pessoa de uma hombridade enorme. Tem muito dinheiro no clube, sim e não podemos esconder isso, embora ele não goste que se fale sobre o assunto.

– Você hoje tomaria alguma decisão sem ouvi-lo?

Jorginho Sampaio – De forma alguma. Nós nos falamos no mínimo duas vezes por dia, no início e no final da tarde. Nós somos realmente muito amigos e contamos hoje com a colaboração bastante próxima de muitos rubro-negros (referiu-se no momento da entrevista ao deputado federal José Alves Rocha, que estava chegando na sala da presidência). O nosso conselheiro José Rocha também tem que ser registrado, tem que ser mostrado o que ele faz pelo clube exercendo um mandado em Brasília. Além de seus serviços prestados, é um apaixonado e está sempre muito perto. É um grande exemplo de ex-presidente do Vitória, de conselheiro e de deputado. Têm-se que fazer uma estátua para José Alves Rocha. Morando em Brasília, ele faz contatos com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que é muito seu amigo, e também junto ao Clube dos 13, com o presidente Fábio Koff, buscando nos ajudar.

– Quanto o Vitória investiu para chegar à Série A?

Jorginho Sampaio – O maior investimento que fizemos, até superior ao financeiro, foi no bom clima. Contamos com muita sorte. Tivemos a bênção e a ajuda de Deus para que formássemos um elenco muito unido. Não tivemos nenhum problema de indisciplina. Para dizer que nada passou em branco, houve um pequeno problema entre Apodi e o treinador Marco Aurélio. Acredito que foi um fato normal, quando o treinador fez uma observação durante a preleção num jogo fora de Salvador e o garoto não concordou, questão contornada de imediato. Foi uma discussão de correção tática e mais nada além disso. No Vitória, não existe panelinha e não tem “ovelha negra”. É um grupo grande, de quase 40 profissionais, incluindo os garotos da base, mas todos em perfeita sintonia. Obviamente que o Vitória gastou muito. Tivemos uma folha este ano só nos profissionais próxima de R$450 mil. É um investimento financeiro digno de registro.

– O clube só gasta isso?

Jorginho Sampaio – No total, o Vitória gasta R$900 mil mensais, aproximadamente. É uma estrutura muito grande que não poderia ficar na Série B. Vamos a partir de agora respirar mais aliviados. As receitas vão aumentar muito. Só de cara, do Clube dos 13, o Vitória vai passar a receber de R$3 milhões por ano para R$12 milhões, o que significará R$1 milhão mensal. Além de outras receitas, esse valor de R$1 milhão vai cobrir basicamente tudo e nos tranqüilizar. Digo mais: pode nos cobrar, porque o Vitória vai brigar pelas primeiras posições no Campeonato Brasileiro de 2008 na primeira divisão.

– Vocês já começaram a planejar o futebol do clube para o próximo ano?

Jorginho Sampaio – Começamos sim e já estamos trabalhando de forma ininterrupta. Vamos passar todo o mês de dezembro em plantão, discutindo com esse grupo que ajuda o Vitória. Vamos renovar o contrato do treinador Vadão. Ele está muito feliz no clube e em Salvador, onde mora com a sua mulher, Ana, pessoa maravilhosa. Essa semana, sem sombra de dúvidas, vamos acertar o contrato de Vadão. Depois de definir com o técnico, passaremos a tratar das renovações de outros vínculos e de correr atrás de reforços. Pretendemos trazer grandes nomes.

– Qual a aspiração do clube em termos de classificação na temporada 2008?

Jorginho Sampaio – Depois de tanto sacrifício nas séries B e C, a gente não vai entrar na elite para brincar, fazer figuração, escapar da degola. O Vitória vai brigar pelas primeiras posições. Hoje, a nossa administração é bem transparente e teremos uma verba que nos credencia. É claro que existe uma diferença muito grande para outras equipes, como Flamengo, Corinthians, Santos, etc, que recebem o dobro. Com criatividade, cuidado e responsabilidade, vamos saber investir a nova verba. Faremos um time competitivo para em 2008 brigar no topo da Série A.

– O prejuízo financeiro foi muito grande este ano?

Jorginho Sampaio – Claro que sim. O Vitória sangrava por mês cerca de R$300 mil. Um negócio de louco! Isso só é coberto com a venda de jogadores. Foi muito duro a gente vender 50% de Leandro Domingues e mais 50% dos direitos federativos de Apodi. Para o Cruzeiro vendemos também Marcelo Moreno. Tivemos também de negociar David Luiz para o Benfica, de Portugal. Só fizemos negócios com esses jogadores por absoluta necessidade, apesar da ajuda que temos de alguns conselheiros, principalmente Alexi Portela Júnior. Se não fosse assim, não conseguiríamos alcançar o objetivo. Agora, a situação vai mudar. Só com muito dinheiro é que vamos vender jogadores. A situação, repito, passa a ser excepcional para contratar valores.

– As especulações começaram, inclusive sobre os laterais Leandro e Júnior, ambos com brilhantes passagens no Vitória. Já existem nomes de reforços?

Jorginho Sampaio – Leandro e Júnior são dois laterais-esquerdos fantásticos com passagens memoráveis no Vitória, mas são jogadores que ganham salários altos. Júnior está totalmente fora do patamar financeiro que será estabelecido, enquanto Leandro pertence ao Cruzeiro e está defendendo o Palmeiras. Nós, na realidade, não fizemos nenhum contato, porque estamos na primeira etapa, que é a da renovação com Vadão e a do auxiliar Gersinho. A partir daí é que conversaremos sobre nomes.

– E o que você tem a dizer sobre o “animal” Edmundo, notícia que saiu na semana passada no site Globo.com?

Jorginho Sampaio – Eu acho Edmundo um jogador fantástico. Ele fez um trabalho brilhante no Figueirense, um clube fora do eixo sul-sudeste, e está muito bem no Palmeiras. Eu gosto muito desse jogador, mas não consta o seu nome em nenhuma de nossas listas.

– Você se arrepende de ter contratado Edilson?

Jorginho Sampaio – Não, de forma alguma. Edilson escreveu seu nome no futebol brasileiro. É um tetracampeão. Enfim, um profissional que dispensa comentários. Sinceramente, esperava mais dele dentro de campo, mas, de qualquer modo, nos ajudou. Fora de campo, Edilson foi extraordinário. Ele sempre ficava junto dos mais jovens. Nas viagens, ficava no quarto com Caíque, Willians Santana ou Ramirez, ou seja, passou a sua experiência para os garotos. Ele foi um atleta exemplar para o clube, portanto não me arrependo de tê-lo contratado.

– Quantos jogadores serão liberados e a partir de quando?

Jorginho Sampaio – Pela dignidade do grupo, pela hombridade e amor que esses jogadores mostraram, pelo profissionalismo, só dispensaremos depois do dia 24. Sábado vamos nos despedir da Série B e esquecê-la totalmente. O nosso lugar é na primeira divisão, para a qual voltamos rápido, sem estacionar pelo caminho.

– O seu mandato vai até quando?

Jorginho Sampaio – Será até 1º de agosto de 2010. Eu quero ter uma passagem marcante no Vitória e depois passar o bastão para que outro rubro-negro venha para ajudar. No tempo em que estiver no Vitória, darei dedicação total e, se possível, ganhando tudo, como profetizou Sinval Vieira.

Entrevista concedida ao jornalista José Carlos Mesquita do Correio da Bahia

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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