Duda Sampaio: O Bahia vive a síndrome do jogo seguinte

Nada surge por acaso. Acostumamos a ver o Bahia ganhar os estaduais, mas na verdade até o título de 88-89, exceção da campanha de 86 o Bahia tinha participações pífias e medíocres nos certames nacionais, perdia e perdia de muito e para muitos. Esta falta de ambição maior cegou boa parte da imprensa, da torcida e dos próprios dirigentes. Levantar o troféu estadual era o ópio anual da torcida, que gostava de ir na Fonte mais para ver os times do sul e sudeste do que efetivamente acreditar que vencer seria possível. A própria campanha de 88-89 só engrenou do meio pro fim, quando o time passou a render acima da média, quando os talentos individuais se emanciparam e quando o sentido de equipe pegou, grudou e não largou mais.

O Bahia vive a síndrome do jogo seguinte: basta vencer a próxima partida que está tudo bem; não importa como vença, mas está tudo bem. E com isso deixa-se de enxergar em nível macro, ninguém percebe o que está ocorrendo à sua volta e quando chega na hora “H”, já era, não dá pra mais nada.

Foi assim no octogonal do ano passado, e tudo indica que assim será este ano. A esta altura do campeonato, olheiros espalhados pelo Brasil já deveriam estar trazendo informações dos prováveis adversários do tricolor na próxima fase, analisando, estudando, observando, mas cadê? Ninguém sequer conhece o CRAC, não sabe nem quem joga no Atlético-GO e pode até se lembrar que o Vila Nova é vermelho e branco.

Quando chegar na hora, vai ser surpreendido e vai dizer que foi azar, que não era o dia nem hora. Querem exemplo: pelo que jogou nas duas partidas em casa, tudo indica que o Bahia vai levar ferro do ABC e do Rio Branco nas suas partidas fora, mas tem alguém olhando a tabela? Tem alguém se preocupando com isso? Mesmo isso acontecendo, dificilmente o Bahia perde a vaga, nem que seja segundo, o objetivo é passar, mas aí já minou a confiança do grupo, a torcida já se descabelou e a imprensa ficará gritando ao microfone suas besteiradas de sempre.

O divisor de águas do Bahia aconteceu no ano passado, quando o time de juniores, após realizar a melhor campanha da história do clube na Copa São Paulo deveria ter sido efetivado para o Estadual, e a direção do clube, de forma honesta e direta deveria dizer à sua torcida que o objetivo de 2006 era voltar para série B, que não estava nem aí para Copa do Brasil e pró estadual; aí daria tempo de preparar um time de forma lenta e gradual para que na hora da disputa a equipe estivesse coesa, em ritmo; mas a tal síndrome não deixou: se preocuparam só com o estadual, trocou de técnico, rifou jogador, contratou carroça. resultado: perdeu tudo.

O que o São Paulo fez chama-se planejamento: semear agora e colher em breve, mas isso não combina com a mentalidade imediatista da torcida e a merdalidade da imprensa. É a mesma coisa do planejamento familiar: é preciso parar de se parir neste país para que daqui a 20, 30 anos a gente colha os frutos do processo, mas ninguém quer isso, as pessoas querem o hoje, o aqui e o agora. E diante das facilidades que o futebol tem, um processo desta monta no tricolor, se bem feito não duraria mais que 4 ou 5 anos para o Bahia voltar a ser grande e a disputar títulos nacionais. É isso que a torcida não entende, e é nisso que a direção se prende: vamos dar ao povo o circo que eles gostam (como bem lembrado pelo amigo Cláudio Paes) e no qual se bastam – não precisa nem do pão…

Autor(a)

Dalmo Carrera

Fundador e administrador do Futebol Bahiano. Contato: dalmocarrera@live.com

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